segunda-feira, 24 de maio de 2010

Feridas Crónicas

     Compreender os motivos pelos quais a ferida não cicatriza, é talvez a parte mais importante da intervenção de Enfermagem. Avaliar os limites da nossa capacidade de intervenção e solicitar a colaboração a outros profissionais de saúde (de modo a criar condições para a resolução de problemas relacionados com a cicatrização daquela ferida), constituem, com certeza, passos decisivos. As equipas multidisciplinares são de primordial importância para o tratamento de feridas. O médico assistente desempenha um papel fundamental neste processo, não tanto para prescrever o produto a aplicar naquela ferida, mas também para se realizar uma abordagem global da saúde do indivíduo. Por sua vez, sabe-se que o estado clínico do indivíduo, quando não avaliado correctamente, pode estar comprometido a vários níveis, podendo influenciar negativamente a cicatrização de uma ferida (até meses e por vezes até anos).

     Outras das principais causas da demora na cicatrização de feridas ou na sua não cicatrização englobam o trauma permanente, desnutrição, diabetes, hipertensão, uso de medicamentos, comportamentos aditivos, anemias, infecção e doença crónica subjacente (diabetes, hipertensão). A abordagem das feridas crónicas, como já foi referido, necessita de ser multidisciplinar no sentido de serem criadas condições para que o organismo tenha capacidade de reparar os danos sofridos.
     Julgo que a prescrição de pensos terapêuticos é desnecessária, apresentando algumas limitações, na medida em que condiciona uma abordagem eficaz. Logo, o produto indicado no momento da prescrição pode não o ser o melhor na abordagem seguinte, pois se a intervenção anterior foi a correcta, e houver evolução positiva, a abordagem posterior poderá necessitar de um produto com funções muito diferentes e, por vezes, até opostas.

     Existem no mercado produtos diversificados, que reunidos às condições físicas do indivíduo, parecem fazer autênticos “milagres”. Posto isto, as características de um penso ideal, defendidas por muitos autores, incluem: assegurar a humidade ideal, manter a temperatura corporal, ser impermeável à água, permitir as trocas gasosas, e que não traumatizar a pele circundante. Perante a quantidade e variedade de produtos disponíveis para tratamento de feridas, a opção terapêutica terá que obedecer a múltiplos factores, que devem ser considerados no momento de decisão, como o: estádio da ferida, tipo de tecido presente, objectivo do tratamento, quantidade e características do exsudado, localização, dor, odor, tempo de permanência do penso, pele circundante, o custo entre outros.
      No entanto, o principal interveniente no tratamento é o indivíduo portador da ferida crónica.
     Para além dos dados objectivos e subjectivos (linguagem, gestos) manifestados pelo indivíduo, o enfermeiro(a) tem que ter a capacidade de compreender a mensagem que a própria ferida transmite. Assim, este pode abordar o indivíduo de uma forma eficaz, e estabelecer em simultâneo um equilíbrio no que concerne à utilização eficiente dos recursos disponíveis.

Não há pensos inteligentes. Inteligentes são os profissionais que os utilizam eficazmente!

Enf.ª Cremilda Almeida
Enfermeira da ULS Guarda, E.P.E.
- CS da Guarda

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